sábado, 7 de março de 2009

Uma cruzada pelo ateísmo?

A Edição 443 - 13/11/2006 - da revista Época trouxe uma reportagem (A Igreja dos novos ateus) sobre um grupo de cientistas ateus que partiram para uma “cruzada contra a fé” no mundo, entre eles o filósofo americano Daniel Dennett, que se diz um ateu convicto. É um dos mais eminentes líderes do Novo Ateísmo, uma espécie de religião dos não-crentes, que prega o fim da influência de Deus na vida moderna. Dezenas de livros são lançados por cientistas influentes que se dizem ateus, três deles estão causando mais impacto. De acordo com a Associação Americana dos Livreiros, em 2005 as obras que se enquadram na categoria “céticos e ateus” registraram o maior crescimento da História e o segundo maior entre os gêneros catalogados. O primeiro é do zoólogo britânico Richard Dawkins, um dos mais conhecidos pesquisadores do evolucionismo; ele publicou em setembro o livro “The God Delusion” (A Ilusão de Deus). Outro livro é do neurocientista americano Sam Harris, “Letter to a Christian Nation” (Carta a uma Nação Cristã), uma espécie de desafio à fé cristã, amparado em uma crítica racional da religião. Outro é de Dennett, “Breaking the Spell”.A “Sociedade dos Céticos” edita uma revista mensal com a quinta maior tiragem entre as publicações especializadas do país. Na televisão, a dupla de mágicos Penn Jillette e Raymond Joseph Teller desmascara truques místicos e agora prega o ateísmo no programa Bullshit, no canal Fox News (exibido no Brasil pelo canal pago FX). Esta “cruzada” em favor do ateísmo, diz a reportagem, “é fruto da preocupação de parte da comunidade científica, em vista do avanço político de forças religiosas sobre o mundo laico na última década.” Vamos analisar as colocações desses cientistas ateus. Em primeiro lugar, acusam a religião de ser perversa e de fazer mal à humanidade. Os novos ateus condenam não apenas a crença em Deus, mas também o respeito pela crença em Deus. Ora, pode ser que algumas religiões sejam perversas, como por exemplo, a dos astecas no México que sacrificavam vidas humanas jovens aos deuses, e outras que pregam a violência como meio de sua expansão, ou outras que enalteçam o suicídio e o ódio; essas sim fazem mal ao mundo; mas não se pode generalizar. A Igreja Católica moldou paciente e fervorosamente a civilização ocidental moderna; em nome de Deus. Foi a única Instituição que ficou de pé depois da queda do Império Romano do Ocidente, em 476, e soube fazer um paciente trabalho de educação dos bárbaros durante seis longos séculos. Em nome de Deus e da religião, a Igreja salvou o Ocidente da destruição bárbara. Basta ler o livro do historiador francês, Daniel Rops, prêmio da Academia Francesa de Letras, “A Igreja dos tempos bárbaros” (Ed. Quadrante, SP, 1991, 644 pgs.) para se conscientizar de que sem o trabalho da Igreja a nossa atual civilização não existiria como é. Foi a Igreja católica que, em nome de Cristo, colocou as bases da ciência, do Direito , da arquitetura, da música, da Arte, da economia, das letras, da astronomia, etc. Diz Daniel Rops que “O Ocidente não teria sido o que foi sem a fecunda obra das instituições monásticas” (DR, pg. 275). Sabemos que os monges copistas salvaram do desaparecimento as obras clássicas da literatura grega e romana. S. Bento de Nurcia com as centenas de mosteiros beneditinos, no século V, salvou a cultura do Ocidente, sem falar na gigantesca obra de caridade. Não havia escola, hospitais, asilos, hospícios, etc. que não fossem da Igreja. Ao lado de cada mosteiro surgia um povoado que depois se transformava em cidade. Camille Jullian escreveu que: “foi o episcopado que prestou à sociedade humana os serviços mais brilhantes” (DR, pg. 273); sem dúvida ele se referia a um S. Leão Magno que parou Ática, e depois Genserico, às portas de Roma para não a destruir, ou de S. Gregório Magno que soube cristianizar e educar os bárbaros em toda a Europa. Joseph Maistre afirmou que: “Os bispos construíram a França como as abelhas constroem a colméia” (idem, pg. 274). Enfim, diz Daniel Rops: “A Igreja, guiada por uma inspiração transcendente,… se constituiu no mais eficaz agente de salvaguarda da civilização” (Idem, 253). “A Igreja pode tornar-se a única força civilizadora da época, a única possibilidade que a luz teve de vencer as trevas da noite” (pg. 257) Este espaço é pequeno para podermos colocar toda a extensão da obra da Igreja. Nunca houve no mundo, em todos os tempos, uma Instituição que se dedicasse tanto a fazer caridade e o bem, especialmente aos velhos, doentes, viúvas, indigentes, órfãos e desamparados. Tudo em nome de Deus. Como então, esses ateus, contra o testemunho da História, que é ciência, ousam acusar levianamente todas as religiões e fazer o mal à humanidade. Quem faz e fez o mal a humanidade foi o ateísmo de Hitler, de Stalin, de Fidel Castro, de Mao-Tsé Tung, e de tantos outros carrascos que assassinaram mais de cem milhões de pessoas. E o denominador comum do pensamento deles era o ateísmo!… Outro ponto que eles alegam é que não se pode provar a existência de Deus. O grande trunfo desses cientistas que infelizmente não provaram quã doce é o Senhor!“, é dizer que as investigações sobre a origem do Universo não deixam lugar para a criação divina. Ora, não se pode pretender que a ciência, limitada a observar fenômenos materiais, seja capaz e instrumento adequado para avaliar a existência de Deus. Deus está além da Ciência, pois é seu criador. Se provar que Deus existe é difícil, muito mais difícil ainda é provar o contrário. Os físicos modernos chegaram ao Big-bang; a grande explosão que deu origem ao universo. E eles perguntam: o que há atrás do muro de Planck? Isto é, o que havia antes da grande explosão dessa massa e energia imensurável e inexplicável que tudo gerou. O que havia antes dela? Quem a fez?Marcelo Gleiser, físico que escreve na “Folha de São Paulo”, e vive nos EUA e se diz ateu, nos dá um resposta infantil e escorregadia, que jamais resistirá a uma análise científica, diz ele: “Nada, segundo os cosmologistas. Essa questão é tão sem sentido quanto perguntar o que há ao norte do Pólo Norte. Isso porque, antes da singularidade inicial, não havia o tempo. O tempo é uma medida de transformação da matéria. Antes de esse processo existir, o tempo não existia.” Penso que para Gleiser, seria sem sentido perguntar se alguém tem pai ou mãe. Ora, como do “nada” pode surgir o Cosmos? Como do nada pode surgir uma massa de densidade inimaginável cuja explosão dá origem ao mundo criado? Na verdade os físicos ateus, que não tem resposta para essa pergunta crucial, não têm a humildade suficiente para aceitar a existência de um Ser Supremo que tudo criou. Outra acusação leviana que esses ateus fazem é de que a religião atrapalha a ciência. Diz o sociólogo Maurício Martins, professor de Filosofia da Ciência na Universidade Federal Fluminense, em Niterói, no Rio de Janeiro que “Nas últimas duas décadas, os pesquisadores se ressentem de que a religião começou a atrapalhar o progresso da ciência.” É preciso lembrar-lhes que quem fundou as primeiras universidades do mundo, Bolonha, Oxford, Paris (Sorbone), e muitas outras, foi a Igreja Católica; e seus monges e sacerdotes foram grande cientistas. Quantas universidades católicas existem hoje no mundo todo? A Igreja nunca foi contra a ciência, ao contrário; ela é contra o mau uso da ciência quando esta não respeita a dignidade humana, como no caso do clone, da manipulação genética de embriões, bebê de proveta, etc. Neste caso, a religião não está contra a ciência, está em defesa da pessoa. É preciso lembrar que se há um grupo de cientistas ateus, há uma multidão de cientistas crentes. Recomendo ler o meu livro “Ciência e Fé em harmonia”, (Ed. Cléofas, Lorena, 2005).Ainda hoje esses cientistas ateus repetem um velho chavão que é dito deste o século XVII, e que nunca ocorreu: Eles acreditam que no futuro a ciência possa ofuscar a fé. Não é uma crença nova. O biólogo inglês Francis Crick, que descobriu a estrutura do DNA, parecia crer que o fim das religiões seria iminente. Tanto que, em 1963, ofereceu 100 libras na Universidade de Cambridge para um concurso de ensaios. O tema: “O que fazer com as capelas do campus?”. O biólogo morreu em 2004, a tempo de ver completado o seqüenciamento do genoma humano. Mas as capelas do campus continuam lá. Por outro lado, os cientistas religiosos preferem harmonizar a fé e a razão. O geneticista Francis Collins, diretor do Instituto Nacional de Genoma Humano, que coordenou o trabalho internacional para mapear o DNA humano, disse: “Acredito que a força criadora de Deus fez tudo existir em primeiro lugar. Por isso, estudar o mundo natural é uma oportunidade para observar a elegância e a complexidade da criação divina”. Francis Collins, o cientista que coordenou o Projeto Genoma, é um dos maiores defensores da fé.

Nenhum comentário:

Postar um comentário