Estive em Aparecida do Norte durante a V Conferência dos Bispos latino-americanos e vi lá montada uma “Tenda dos Mártires”. O nome me chamou a atenção, já que sou muito interessado na vida dos mártires e no martirológio da Igreja. Era uma lona branca como uma lona de circo, com cartazes, faixas e símbolos típicos da teologia da libertação. No fundo havia uma grande faixa com os rostos e os nomes dos “mártires da América Latina”. Me disseram que até alguns padres e bispos estiveram visitando a tenda do mártires.
Logo pude notar que não se tratam de mártires proclamados pelo Papa, mas de pessoas que alguns julgam ser mártires por terem morrido em movimentos sociais na América Latina.
Ora, somente o Papa pode proclamar alguém Mártir pública e oficialmente, o que equivale a dizer que é um Santo com direito a culto universal. No entanto, os nomes que estavam citados na “Tenda dos Mártires”, sequer tem um processo de beatificação começado no Vaticano?
Então temos o direito de perguntar: como alguém na Igreja ousa usurpar a autoridade do Papa e proclamar alguém mártir ou santo? É algo totalmente errado e que causa confusão e desvio no povo de Deus. Onde está a obediência ao Papa e à Santa Sé que todo católico é obrigado a prestar?
Mártir não é todo aquele que morre em um movimento social; muitos comunistas e ateus também morreram em movimentos sociais. Mártir é aquele que morreu professando e testemunhando a fé católica.A palavra mártir vem do grego mártys, mártyros, que significa testemunha. O mártir é uma testemunha que chega ao derramamento do próprio sangue. O Catecismo da Igreja Católica afirma que: “O martírio é o supremo testemunho prestado à verdade da fé; designa um testemunho que vai até a morte”. (§ 2473)
O Concílio do Vaticano II desenvolve tal noção:“Visto que Jesus, Filho de Deus, manifestou Sua caridade entregando Sua vida por nós, ninguém possui maior amor que aquele que entrega sua vida por Ele e seus irmãos (cf. 1Jo3, 16; Jo 15, 13). Por isso, desde o início alguns cristãos foram chamados – e alguns sempre serão chamados – para dar o supremo testemunho de seu amor diante de todos os homens, mas de modo especial perante os perseguidores. O martírio, por conseguinte – pelo qual o discípulo se assemelha ao Mestre, que aceita livremente a morte pela salvação do mundo, e se conforma a Ele na efusão do sangue – é estimado pela Igreja com exímio dom e suprema prova de caridade. Se a poucos é dado, todos, porém, devem estar prontos a confessar Cristo perante os homens, segui-lo no caminho da cruz entre perseguições, que nunca faltam à Igreja” (Lumen Gentium nº 42).
D. Estevão Bettencourt, ensina que: “Para que a Igreja declare oficialmente que alguém é mártir da fé, são efetuadas pesquisas a respeito de:- a verdadeira causa da morte: pode ser que um cristão seja condenado à morte não por ser cristão, mas por estar envolvido em alguma campanha política ou de outra ordem;- a livre aceitação da morte por parte da vítima;- graças ou milagres obtidos por intercessão do(a) servo(a) de Deus. O processo é iniciado na diocese à qual pertencia a vítima ou na qual ela foi levada à morte. Continua e termina em Roma, na Congregação para as Causas dos Santos.” (Pergunte e Responderemos, Nº 456, Ano 2000, Pág. 194.)
Não quero entrar no mérito se as pessoas anunciadas publicamente como “mártires” na “Tenda dos Milagres”, tenham os méritos dos mártires ou não, mas não há como negar que é um desrespeito e uma desobediência à Santa Mãe Igreja, anuncia-los como mártires sem o aval do Papa. Ninguém pode se colocar acima da Igreja (cf. Mt 18,17).
Prof. Felipe Aquino
sábado, 7 de março de 2009
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